Lakita: de Corpo e Alma, FABR
- Giovanna Sociarelli
- Nov 19, 2021
- 6 min read
Geralmente começo meus textos contando sobre alguém de forma completamente profissional e neutra, mas com ela seria impossível que fosse dessa forma. Eu me lembro bem do dia que conheci a Lakita: 2 de fevereiro de 2020, Super Bowl LIV. Eu não fazia a menor ideia de quem ela era, mas, desde o primeiro segundo que me viu, tratou-me como se nos conhecêssemos há séculos. Não sei explicar muito bem o que aconteceu, ela emanava uma energia tão boa, o tipo de pessoa que você quer ter por perto. Eu definitivamente não sabia de que estava frente a frente com uma das mulheres mais fortes que eu conheço hoje.

Confesso que precisei de muitos meses para descobrir seu verdadeiro nome: Lais Sodre (pelo qual ninguém a conhece), nascida em 9 de março, uma pisciana que sabe lutar com todas as forças pelo que acredita, além de ter o maior orgulho do mundo pela sua trajetória. Não só isso, ela também é fã de Red Hot Chilli Peppers, Star Wars, academia e esportes. Claro que não é por esses motivos que ela é tão conhecida, mas sim pela sua dedicação de corpo e alma ao Futebol Americano Brasileiro, um amor que eu poderia chamar de coincidência, mas eu não acredito que qualquer coisa nessa vida aconteça, de fato, ao acaso.
Começando pelo começo (!!!), seu amor por esportes é coisa de longa data, pois cresceu em meio a ele. Sua família é dona de um time de futebol de várzea, então desde pequena (não que ela tenha crescido muito, não se engane com o Instagram rs) frequenta estádios. Tornou-se uma torcedora fanática do Palmeiras, herdando esse amor de sua avó, que também era completamente apaixonada pelo clube. Virou presença cativa nos jogos, principalmente com um grupo de amigas, aparecendo inclusive em jornal para falar sobre a presença feminina nos estádios. A organizada foi uma grande lição de vida sobre amadurecimento e amizade.
Aos 11 anos já tinha encontrado no esporte sua grande válvula de escape, jogando como pivô de handebol até os 18. Anos mais tarde, mais precisamente em 2013, conheceu o futebol americano, algo como quem não quer nada, só uma mudança de canais que acabou em San Francisco 49ers x Seattle Seahawks, em que SEA venceu por 29-3. Dali em diante, nasceu o amor pela bola oval, e a decisão de acompanhar todos os jogos junto com seus amigos. Algum tempo depois, ela se tornou uma torcedora vidrada no 49ers, pulsando sangue Forever Faithful desde então.
A pergunta que não quer calar, por que escolher o 49ers?
Comecei assistindo aos jogos do 49ers e eles perderam, ‘aí’ soltei a piada que, como todos os times que torço (Lakers e Palmeiras) estavam perdendo naqueles dias, vou torcer para esse que está perdendo também. Eu sempre tive uma ligação muito forte com a Califórnia, e até aquele momento não sabia que 49ers era da Califórnia rs, foi então que falaram "nossa você tem um pé na Califórnia mesmo, o time é de San Francisco".
Mesmo com essa informação, ainda pensei em escolher um time de verde para combinar com as roupas do Palmeiras no guarda-roupa, mas todos os times que tinham verde e que eu assistia aos jogos, não conseguia ter empatia, ‘aí’ pensei que não tinha jeito mesmo, meu sangue já era forever faithful.
Ainda em 2013, veio a decisão de começar a produzir conteúdo sobre futebol americano. Uma conversa no Twitter com algumas outras meninas lhe trouxe essa ideia, e foi assim que entrou para o grupo de redatoras do finado Luluzinha Club. Durante alguns anos, contribuiu para a redação, escrevendo sobre NFL. Parecia que tudo estava encaminhado para que esse fosse o seu futuro, no entanto, tudo mudou em 2016. Através de um convite para o 1º Training Camp de Cairo Santos, Lakita conheceu o FABR, o esporte que virou o seu farol de guia, motivo de brilho nos olhos e um amor incondicional envolvido. A partir daquele momento, deixou a redação de NFL para trás e começou a cobertura da SPFL.
Ainda na redação do Luluzinha, Lakita aprendeu muito sobre amizade e conheceu Carol Grigori, que também contribuía para o portal:
Eu a conheci em 2016, no projeto sobre futebol americano que participávamos. Não tínhamos muito contato direto no início, porque ela era responsável pelo conteúdo de FABR e eu falava sobre NFL. Com o tempo fomos nos aproximando e depois que nos encontramos pessoalmente pela primeira vez ficamos cada vez mais próximas. A Lakita é, sem dúvidas, uma das pessoas mais fortes e dedicadas que eu conheço. É uma pessoa muito inteligente, que sempre busca entregar excelência em tudo que se propõe a fazer e que tem muita garra. Mas o principal motivo pelo qual eu a admiro tanto é o tamanho do seu coração. Sou uma pessoa muito mais feliz e honrada por tê-la em minha vida e poder chamá-la de amiga.
Com o fim do Luluzinha, os rumos de Lakita foram para o Salão Oval, um dos maiores portais de FABR, onde está até hoje: “foi o lugar que me senti realmente em casa fazendo o que eu estava fazendo. Eu não sinto tanta vontade para falar de NFL assim como me sinto à vontade falando de FABR, meu coração bate um pouco mais forte ao falar de FABR. Claro que adoro NFL/ College e prego a palavra sempre em qualquer lugar, mas o brilho nos olhos está no FABR”.

Sempre admirei na Lakita seu trabalho duro e sua dedicação com as coisas. É aquela velha história de fazer o melhor com as condições que você tem. Parece que esse sentimento com relação a ela é unanimidade: virou referência cobrindo FABR pela qualidade do seu trabalho e por se importar até mesmo com as pequenas coisas. “Uma vez, o jogo tinha acabado e, na mesma hora que peguei meu celular, já tinha mensagem da Lakita perguntando o placar para colocar no Salão Oval” disse Raquel Araújo em entrevista.
Embora o FABR ainda não tenha a dimensão que pode alcançar, é por conta de pessoas com essa dedicação, que sonham com o esporte atingindo o nível profissional, que ele vem crescendo a cada temporada. Sobre esse objetivo, perguntei para a Lakita o que ela acreditava que a liga precisava melhorar e como atingir o nicho que acompanha NFL:
Particularmente, acredito que a comunidade inteira precisa melhorar, não só as ligas (estaduais e nacional), mas os times, arbitragem e imprensa precisamos crescer e melhorar juntos. Cada um buscando sua evolução com um mesmo objetivo, assim chega-se a um bom resultado. A última edição da BFA acredito que foi a mais próxima de uma realidade boa que podemos ter, tanto que tivemos oportunidade de ter alguns jogos passando na ESPN.
Engloba várias questões aqui [sobre atingir o nicho]. Mesmo chamando a atenção aparecendo nas mídias da NFL Brasil e ESPN, será bem desafiador o público começar a dar mais atenção. Acredito que esteja ligado a nossa cultura também, temos tantos outros esportes que não conseguem isso, a exemplo o basquete e o vôlei que estão há anos no cenário e só damos atenção em olimpíadas ou alguns outros jogos. Seria uma boa para todos os esportes se tivéssemos público cheio igual temos no futebol em todos os jogos.
A mulher, que conheceu por acaso o esporte, acabou por se tornar referência na área, principalmente no cenário nacional, virando um exemplo a ser seguido de força e dedicação. Muitos foram os obstáculos e as dificuldades encontradas no meio do caminho. Nunca é fácil e ninguém disse que seria, mas a Lakita conseguiu contornar todas essas barreiras com garra e, além de uma excelente profissional, ser uma pessoa reconhecida pelo seu coração enorme. Para ela, estar na sideline é um momento sagrado, uma válvula de escape dos problemas, um momento de felicidade. O que começou com a conquista de cobrir todos os jogos da BFA femininos, pode ser que um dia se torne uma entrevista com o grande ídolo, Colin Kaepernick.

Ninguém sabe o que o futuro reserva, mas seu passado já é uma grande história a ser contada, algo que salvou a sua vida. O futuro a Deus pertence, mas a história trilhada já é um feito e tanto. Para terminar esse texto, deixo o conselho de Lakita para as próximas gerações: O esporte tem salvado muitas vidas e, através dele, podemos aprender inúmeras coisas que podem trazer um mundo melhor. Nunca se cansem de aprender, conhecimento é a única coisa que não podem tirar de você!
"Se as coisas são inatingíveis... ora! / Não é motivo para não querê-las... / Que tristes os caminhos, se não fora / A presença distante das estrelas!" Mario Quintana
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